sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Estava no segundo semestre na Faculdade e uma das disciplinas que compunha a grade era Antropologia. Por pura ignorância, do que ouvia falar, me parecia algo tão distante que me questionava sobre o conteúdo a ser trabalhado.

No primeiro dia de aula, todos aguardavam o professor, ainda desconhecido por nós, e eis que entra na sala um senhor baixinho, de pele clara, magrinho, de fala mansa e aparência frágil (ainda não sabia que era um gigante!). Se apresentou como Sebastião Héber. O silêncio tomava conta da sala. Perguntou o nome de cada um dos alunos e explanou sobre a disciplina que coordenaria – sempre frisava que o aprendizado é recíproco e que todo mundo tem algo a ensinar. Nascia minha simpatia, depois admiração por ele.

Este dia é absolutamente nítido na minha mente! Contou-nos um resumo da sua vida, sua origem e formação, que era extensa! Títulos e publicações reconhecidas por instituições e pessoas “nomeadas”. Ainda assim, contava de forma humilde e, talvez com receio de ser mal interpretado, pontuou que relatava aquilo pra que nos incentivar a continuar estudando. “Estão no segundo semestre e chegar ao doutorado parece longe e difícil demais, mas não é. Eu nunca parei de estudar e ainda vou fazer o pós-doutorado. Estudar é um processo contínuo, não da vontade de parar.”

Foi o que mais me surpreendeu! Um homem daquela idade e falava de estudar com uma empolgação de quem acaba de entrar na graduação. Contei isso para minha filha e todos os meus amigos. Era contagiante demais! Sempre quis entrar na faculdade e achava tão distante de mim, sabia as dificuldades que teria ao longo do curso... Definitivamente era uma lição!

Sempre fui expansiva e raramente uma apresentação a determinados públicos me deixam aflita. Na segunda unidade, quando teríamos me apresentar um seminário, me empenhei o máximo: Pesquisei e estudei o assunto com afinco! Nenhum receio de ter nota baixa, perder na matéria ou nada trivial assim. Queria é que ele visse o resultado do seu trabalho. Queria fazer jus ao seu exemplo. Estava completamente nervosa!

Eu e os colegas arrumávamos a sala para o trabalho e como precisávamos escrever algumas coisas no quadro, fui buscar um piloto na coordenação. Matheus tinha me acalmado, mas encontrei Sebastião e ele, sabendo que era o dia da minha equipe se apresentar, disse que então tinha certeza que veria uma boa apresentação! O nervoso voltou! Como não? Era pra ele assistir...

Semestres passaram e os encontros com ele eram sempre carinhosos. Nos tratávamos como: “Meu professor querido” e “Minha querida” entre abraços afetuosos.

Ele se foi, mas as lições ficarão. O exemplo do respeito à diversidade, o reconhecimento e propagação de que a origem dos conhecimentos está na mais humilde das pessoas.

Me dá um certo consolo, saber que sempre o admirei, que tive chance de dizê-lo e disse.

Tem gente que passa e gente que FICA! Você continua aqui, meu professor querido!!!

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