quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Prioridades outras (ou nenhuma) II

"Diga-me com o quê gastas e te direi quem és"
O Governo do Estado estipula que serão gastos cerca de R$ 591 milhões para a construção da "Arena Fonte Nova", afinal orgulhosamente (?) sediaremos a Copa de 2014 e Salvador é candidata a abrigar o jogo de abertura (torci tanto para que o Brasil não ganhasse nesse sorteio, penso que os malefícios serão permanentes e os benefícios temporários), já o Hospital do Subúrbio (HS) custou cerca de R$42 milhões. Não sou economista (reza a lenda que Jornalistas,embora ainda não tenha me formado, não entendem nada de números), não entendo de administração/gestão, nem de medicina, não trabalho com licitação, mas sou alfabetizada e vejo a diferença (591-42) de R$549* milhões de um investimento para o outro.
Como cidadã, percebo que a necessidade de ter assistência eficiente na área de saúde é maior do que ter à disposição um belo estádio. O fato de não gostar de futebol também não influencia essa minha reflexão.
O objetivo aqui é pensar o que é prioridade e atentar para algo sobre o qual ainda não ouvi um comentário: a questão não é somente construir mais um hospital. É fazê-lo funcionar satisfatoriamente! O HS em sua inauguração já contou com uma manifestação dos médicos residentes insatisfeitos com seus salários e condições de trabalho. Fala-se em "desafogar" o HGE. Sim. E como os médicos trabalham lá? "Todos bem, obrigada?". Talvez aquela diferença* tivesse maior utilidade na reparação das deficiências que já existem. Grande parte da demanda do Hospital Geral é formada por pessoas que vêm do interior do estado. Só pra citar um exemplo, uma médica clínica recém-formada liga pessoalmente para a capital solicitando (leia-se implorando) por uma vaga na UTI para tentar salvar a vida de um paciente de 29 anos que tinha condições clínicas de se salvar, caso fosse submetido ao devido tratamento do qual a unidade interiorana não dispõe (a propósito, o rapaz não resistiu à espera e foi a óbito).   
É uma febre nacional "construir isso", "criar tal lei ou projeto" mas, e quanto a manutenção dessas obras/serviços e o cumprimento dessas leis? Fazer um filho, permitam-me a comparação, é a parte mais fácil, rápida e prazerosa! Criá-lo dignamente, mantê-lo e educá-lo é a parte "trabalhosa" e onde muitos deixam a desejar...
Sugiro uma enquete (ou um plebiscito como diz a outra) com os baianos, principalmente entre aqueles que estão nas filas e nos leitos dos hospitais, perguntando no que (mais) investiriam, na saúde ou na construção de um campo de futebol, se tivessem nas mãos R$ 633 milhões.
Desejo que os torcedores lembrem que, um dia, ficarão doentes.


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