sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O "altruísmo" no Haiti

No dia 12 de Janeiro deste ano, o mundo voltou sua atenção para o Haiti. Esse país de aproximadamente 9 milhões de habitantes, sofreu um tremor de terra de magnitude sísmica de 7,0 na escala de Richter. Até hoje não se precisou o número de mortos, estima-se cerca de 200 mil.
Imagens da devastação foram largamente exploradas pelos meios de comunicação.
Em todo momento, surgiam na TV destroços de casas e prédios, pessoas soterradas, o desespero na busca por sobreviventes, resgates ao vivo. A desgraça local teve, por dias a fio, uma visibilidade mundial. De todos os lugares do globo começaram a chegar ajuda voluntária de exércitos e de médicos, mantimentos, água, remédio. Daí passamos a assistir a um outro espetáculo de horror: a disputa pela sobrevivência, agora estampada como luta corporal, filas quilométricas em busca de cestas básicas para alimentar famílias inteiras.
Do lado de cá, surgiram e espalharam-se campanhas de arrecadação de dinheiro e gêneros alimentícios para “as vítimas do Haiti”. Países desenvolvidos e em desenvolvimento mobilizaram-se para ajudar a reconstruir as cidades atingidas.
Também me comovi com cada cena que vi. Quem não o fez? Me senti um tanto cruel, quando me questionei até onde todas essas demonstrações de humanidade eram verdadeiras. Mas depois, me dei um desconto quando analisei o motivo dessa desconfiança:
O Haiti tem sua história marcada por sofrimentos (mas também superações e glórias). No fim do século XVI, teve grande parte da sua população escravizada ou morta, seu território já foi “cedido” à França pela Espanha. Hoje, 45,2% dos cidadãos haitianos são analfabetos, a expectativa de vida é de 60,9 anos, sua economia é primária e a renda per capita é “extremamente baixa”. Foi preciso um terremoto dessa proporção para sensibilizar o mundo? A comparação pode ser um tanto estúpida, mas é apenas uma provocação para pensarmos nas tragédias “não anunciadas” ou “não naturais”. Aquelas provocadas por ação humana (embora também tenhamos certa participação em terremotos, enchentes e afins). Todos os países que estão contribuindo para amenizar a miséria no Haiti, têm suas próprias mazelas e, nem sempre, as percebem ou tentam mudá-las.
Resolvi escrever sobre isso porque acho muito válida (e necessária) cada ação comunitária, mas, também acho estranhíssimo ignorar os marginalizados e excluídos na sua cidade e “dar de comer” a um necessitado do outro lado do continente.
O altruísmo (?) não vale pra todos?

5 comentários:

  1. Pow Gi...seu texto está mara. Muito bem estrurada suas ideias e concordo com vc tb! Inclusive escrevi sobre o Haiti também, mas con outra perspectiva!!!
    Depois de uma olhada no meu!
    Bj May

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  2. Oi Girnil,
    Seu questionamento é com certeza o mesmo de muitos brasileiros. Nós convivemos com o "Haiti" em nossa porta, mas, parece que só quando a televisão explora um fato consegue alcançar algumas pessoas. Seu texto foi no amâgo da questão. Parabéns! Bjs Magda

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  3. Gi,
    Você tocou num ponto intrigante. Quando ocorrem esses acontecimentos somos os primeiros a ajudar independente das circunstâncias.Mas quando se trata de ajudar alguém que está ao seu lado...vemos as nossas prioridades. Seu texto está muito bom! Beijos

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  4. Além de publicar aqui, mandei esse texto pra o e-mail de alguns amigos e pedí que comentassem. Muitos fizeram comentários e só Edmundo (um amigo de trabalho) me chamou a atenção para um erro gravíssimo que cometí. Coloquei o Haiti como um país africano.
    Sem saber nem onde o país se localiza extamente, fica IMPOSSÍVEL falar por e/ou para ele...
    Para ser uma profissional séria e responsável(esse é o meu objetivo), acredito que reconhecer, admitir, desculpar-se, corrigir-se e agradecer pelas contribuições é essencial!
    Desculpem-me.
    Obrigada, Edmundo!

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  5. Nil... achei muito interessante seu ponto de vista em relação a esse acontecimento! Já fui criticado inúmeras vezes por pensar assim, ao falar que quando uma tragédia é exposta pela mídia ela comove muito mais algumas pessoas do que as 'tragédias cotidianas' pelas quais essas pessoas se deparam sem sentirem o mínimo de compaixão!
    Muito bom seu blog!
    Estarei sempre aquii!
    Boa sorte!!

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