sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Distâncias

A proposta desse blog é publicar textos a respeito dos assuntos que tiveram maior relevância durante a semana. “Fuçando” a internet no intuito de me informar sobre os acontecimentos e buscar saber sobre o que escreveria, me deparei num site bastante acessado, com o que talvez seja pra uns uma nota insignificante: “Condomínio atrasado faz síndico descobrir francês morto há 3 anos” (a matéria é de Daniela Fernandes da BBC Brasil).
Digo que pode parecer insignificante por tratar-se de um caso acontecido em Paris. A chamada “Cidade Luz” é a capital mais visitada do mundo! Conhecê-la é a ambição de muitas pessoas. Museu do Louvre, Rio Sena, Torre Eiffel, Catedrais, obras de arte famosíssimas fazem parte do imaginário daqueles que ainda lá não foram e das doces lembranças dos que já tiveram essa honra.
Mas Paris, assim como outras grandes cidades do mundo guardam histórias sombrias como essa, de pessoas que se isolam ou pior, são isoladas pelo ritmo da vida moderna.
Com a intenção de cobrar a taxa do condomínio que estava atrasada há 3 anos, o síndico descobre o corpo de um dos seus moradores, em avançado estado de decomposição.Tinha perguntado por ele a vizinhos, parentes e foi informado que não o viam durante esse mesmo tempo. Acionou a polícia, que invadiu o apartamento, e se depararam com a cena funesta.
O que senti ao imaginá-la não foi nojo ou pena, e sim uma tristeza muito grande em pensar no rumo que a vida que escolhemos (?) está seguindo.
Não quero dizer que necessariamente todos morreremos esquecidos dentro de uma casa. Mas que a morte não precisa ser física.
São perceptíveis as mudanças que as relações humanas têm alcançado. A disputa por um emprego, a necessidade em mantê-lo, em especializar-se numa determinada profissão, a busca por uma melhor colocação no mercado (diante da grande concorrência), as infinidades de bens materiais que aprendemos a desejar, tudo isso tem contribuído para uma frieza no trato com as outras pessoas ou numa falta de tempo desmedida para cuidarmos das relações que construímos ao longo da vida. Tudo isso me apavora! Entendo, mas não compreendo.
Lembro de histórias que minhas avós contavam sobre a vizinhança do interior onde moravam. Era uma “extensão da família“, elas diziam. Quem são seus vizinhos? Você sabe? Existe acolhida entre vocês?
Tá, eu sei que “tudo muda” e isso pode ser uma coisa boa (e é), mas não é estranho que durante anos alguém mora num condomínio e não saiba quem mora no apartamento da frente, por exemplo? E quando desconfiamos do homem vestido com uma roupa de agente de saúde? Ah, mas aqueles três homens de mochila que entraram juntos no ônibus!? Óbvio que iriam me roubar...
Devaneios. Solidão.

Minha professora diria: “Girnil, isso é tema pra uma dissertação de Mestrado”. E eu responderia: “Isso é o nosso triste cotidiano, querida”.


Girnil, saudosista aos 32 anos de idade.

3 comentários:

  1. Beira o grotesco esse fato...
    Existe hoje uma certa reclusão camuflada!
    Todos presos em seus computadores... com seus contatos virtuais... enquanto ficam resumidos a um 'bom dia' aos que encontram no elevador...

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  2. A cidade grande traz consigo o anonimato e a insegurança. Ninguém sabe da onde se vem ou para onde se vai. As pessoas se fecham como caramujos. Diferente das pequenas vilas onde todos conhecem as origens dos moradores. Entendo perfeitamente sua reflexão tão bem descrita Girnil. São fatos que sempre nos enche de interrogações.

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  3. Enquanto me deparo na tristeza da realidade que o texto escancara, debruço-me na alegria de estar morando (de volta) na minha pequena cidade (natal) em que sou capaz, não só de conhecer os vizinhos dos dois lados, mas saber os nomes de quase todos os moradores e comerciantes da praça onde se localiza a minha casa.
    Voltei a ter o prazer de, normalmente aos fins de semana, sentar na porta de casa e enquanto se aprecia o movimento no jardim, recebe-se a visita de amigos para um bom e saudável bate-papo.
    Havia esquecido disso durante os dez anos morando em Salvador.

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