quarta-feira, 10 de agosto de 2011

De protesto e semelhanças

Dezenas de trabalhadores da construção civil estão reunidos na frente dos prédios próximo ao Salvador Shopping. Muitos deles lêm jornal para se informar sobre a "tragédia anunciada" ocorrida ontem com nove de seus colegas de trabalho.  Estão lendo para saber mais sobre esta especificamente, pois, todos eles, certamente têm consciência do risco que correm diariamente e aos quais a imprensa não dá a mínima atenção. Atentam somente quando se trata de um acontecimento trágico como esse, que ajuda a aumentar a venda de jornais de acordo com o nosso gosto por coisas mórbidas ou pela necessidade de informação (vai saber), ou para falar sobre o boom imobiliário em Salvador.  
Segundo consta, a "Construtora Segura" - que ironia - ainda não tinha se pronunciado a respeito do "acidente". Aspas? Sim, aspas. Ontem eu estava num ponto de ônibus quando o senhor comentou sobre o ocorrido e salientou que alguns operários daquela obra já tinham notificado quanto a problemas apresentados pelo elevador utilizado. Pensativo, refletia e questionava: "Tinha quatro irmãos trabalhando com o pai na obra e viram ele morrer. Já pensou se um deles se revolta e bate ou mata um engenheiro desses ou um chefe de segurança?"  ...  Não me atreví a dizer nada. Não acho que seria a solução mas também não julgaria nem o senhor que contava, nem os tais homens se agissem assim. 
Quanto à veracidade da história, desconheço e sei que meu papel como cidadã e futura jornalista é de investigar antes de publicar. No entanto, a intenção aqui não é promover vendas - de jornal, revista ou adquirir audiência -, por isso, considerei pertinente divulgá-la aqui no sentido de mostrar que a população está atenta aos seus direitos e, cansada, - acredito - começa a questionar cada vez mais as situações às quais está exposta, ainda que às vezes seja de forma instintiva.
Isso me faz pensar nas últimas manifestações em Londres. Em protesto pela morte de um taxista que foi atingido e morto por disparos de um policial - aqui chamamos de "bala perdida"- ao norte da cidade, algumas pessoas atearam fogo em prédios e saquearam lojas . Em todos os veículos nos quais lí a notícia, a referência aos manifestantes era como "vândalos", e aos atos, como "onda de violência". Novamente não acredito que esta seja a solução, a questão é a forma como se noticiam fatos como esse. Interessa a quem esse jeito de comunicar e "informar"? O discurso é feito por quem? Para quem? E para quê?
Fato é que na Europa as coisas são bem diferentes daqui. Já pensou se para cada pessoa morta em ações desastrosas - consequência de uma série de fatores, da culpa de categorias e órgãos diversos e da falta de políticas públicas de educação - aqui no Brasil, a população tivesse uma reação ao menos parecida com a dos ingleses? 
...

4 comentários:

  1. Sua sensibilidade e leitura dos fatos é perfeita. Muito bem colocada a sua inquietação que na realidade traduz o sentimento da sociedade em si.Prabéns!

    ResponderExcluir
  2. Concordo com as palavras de Magda. hehehe Neste texto você vai direto ao assunto e consegue expressar sua ideia claramente. Achei interessante também o comentário sobre a situação atual de Londres, mas só estamos vendo o que a mídia nos mostra, na essência não sabemos ao certo o motivo desses protestos, talvez a morte do rapaz tenha dado início a "confusão", porém existe a possibilidade de outros fatores por trás da história. Voltando ao assunto dos operários, falta ainda vergonha na cara daqueles que "fiscalizam" as obras, para que esse tipo de coisa não aconteça mais com o "cara" que está tentando ser honesto neste país miserável!

    ResponderExcluir
  3. Vandalismo não é solução, mas é necessário ir às ruas, gritar, protestar mesmo, aprendemos a protestar apenas nas filas ou nos pontos de ônibus, recentemente em uma caminhada contra a escalada da violência em salvador, os entrevistados, todos ou foram vitimas ou tinha casos de violência na família. E quem não sofreu violência, esta imune? Quem não tem familiar na const. civil tambem esta imune? E sofremos tantos tipos de violencia por dia. Por que será que não reagimos?

    ResponderExcluir